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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

Diários de viagem

O livro que estou a ler neste momento é o «Diário de Oaxaca» de Oliver Sacks, o diário do neurologista durante uma expedição botânica nesta cidade do México. Não partilho a paixão do autor pelas plantas mas gosto sempre de ler diários de viagem. Este livro é isso mesmo, um diário sem grandes pretensões e com alguns desenhos pelo meio.

Há algo de muito especial em viajar e registar todos os pormenores, as conversas, as diferenças culturais e os momentos marcantes. Por isso, aqui ficam sugestões de quatro livros e quatro blogs que são bons diários de viagem.

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LIVROS

  • «Sete anos no Tibete» de Heinrich Harrer: um dos meus livros preferidos e muito mais do que um livro de viagens. O autor foi capturado pelos ingleses durante uma expedição aos Himalaias na 2ª Guerra Mundial. Ficou num campo de prisioneiros da Índia, fugiu e viajou a pé até ao Tibete, onde viveu durante sete anos. Pelo meio, conhece e acompanha o jovem Dalai Lama. Li este livro durante a adolescência e foi, sem dúvida alguma, um dos livros que me fez começar a gostar muito de ler. É uma história real extraordinária e recomendo a leitura a todos os curiosos com a cultura do Tibete. Já agora recomendo também esta entrevista (para rir) do John Oliver ao Dalai Lama (a partir do minuto 10:30).
  • «A geografia da felicidade» de Eric Wagner: o autor viaja pelos países mais felizes (como a Islândia e o Butão) e infelizes do mundo para perceber, afinal, o que é a felicidade? Aqui fica uma das minhas passagens preferidas:

(...) as pessoas no Butão parecem, de facto, ser felizes. (...)

- Não, acho é que estas pessoas não conhecem uma vida melhor - defende Terri. - Se as levássemos para os Estados Unidos, elas veriam o que estão a perder.
Digo-lhe que, de todos os butaneses que estudam no estrangeiro, 90 por cento regressam ao Butão. Terri está silenciosa, visivelmente baralhada. Por fim, diz:
- Ora! A que propósito fariam uma coisa dessas?

 

BLOGS

  • Legal nomads (com narrativas longas sobre experiências de viagem)
  • The everywhereist (ultimamente também com posts interessantes sobre política e sobre Trump mas é essencialmente um blog de viagens)
  • Viver a viajar (um dos meus blogs de viagem preferidos em português)
  • Viajário ilustrado (gosto especialmente dos relatos sobre a viagem a São Tomé e Príncipe e deste post sobre tartarugas marinhas)

O que mede a importância da nossa vida?

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Há umas semanas li um artigo no "The New York Times" que se chamava "You'll never be famous – and it's ok". Ao contrário do que esperava, o artigo não fala sobre aquela ideia tão americana da fama fácil (estilo Kardashians) mas foca-se mais na pressão imposta pela sociedade para se fazer alguma coisa extraordinária e ser-se reconhecido por isso. Começar uma rede social, terminar uma crise humanitária, descobrir a cura para uma doença, enfim, tudo isso.

O autor conta a história de dois personagens (um casal) de um livro que vivem completamente focados nos seus sonhos. Assim que li esta história lembrei-me a frase de Dumbledore em Harry Potter, quando ele diz que não serve de nada trabalharmos para os nossos sonhos, se nos esquecermos de viver. Bom, mas na história os sonhos desvanescem com o tempo e acabam por não se concretizar. No final, enquanto ele vive amargurado com esse resultado, ela decide viver com isso (ou apesar disso):

Rather than succumb to the despair of thwarted dreams, she embraces her life as it is and contributes to those around her as she can.

Pela mesma altura, fui apanhada de surpresa por uma mensagem a informar da morte de alguém que nunca conheci pessoalmente mas de quem gostava muito. E dei por mim a pensar na forma como as pessoas nos marcam, tantas vezes sem o saberem. Essa pessoa, com quem só falei por skype, teve muita importância na minha paixão desmesurada por tartarugas marinhas e em duas das minhas experiências de voluntariado fora de Portugal. Ensinou-me mais do que muitos dos meus professores da faculdade, por decidir tomar decisões comigo em vez de me dizer o que fazer. Teve uma vida extraordinária? Eu acho que sim. O obituário não terá aparecido no jornal, mas foi uma espécie de amigo e mentor para centenas de voluntários por esse mundo fora, que foram à Grécia à procura de alguma coisa que não sabiam o que era.

A conclusão para este texto é a mesma do de Emily Esfahani Smith para o The New York Times. Todas as vidas podem ser significativas, é uma questão de não nos perdemos demasiado nos "e se's" e de não nos deixarmos amargurar pelos momentos em que tudo parece perdido. Acreditem, não está. Uma vida boa é quase sempre, também, uma vida simples.

good life is a life of goodness — and that’s something anyone can aspire to, no matter their dreams or circumstances.

Dois filmes para ver: It e o castelo de vidro

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Os dois últimos filmes que vi e que não podiam ser mais diferentes entre si. Misturam thriller/terror (It) e um drama familiar (O castelo de vidro). Recomendo muito os dois.

 

It

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Uma boa parte da minha infância foi passada a ver filmes de terror. Adoro. Desde os muito assustadores mas sem sentido nenhum produzidos no Japão, às versões copiadas pelos americanos, a alguns clássicos e a filmes tão maus que se tornam simplesmente cómicos. Há qualquer coisa de muito bom em ver um filme de terror, quando não somos pessoas de ter pesadelos com isso. Ficamos tão presos ao filme que não temos margem para pensar em mais nada. Para mim, ver terror é isso. Não pensar em mais nada. O único filme de terror que me assustou verdadeiramente foi o “Sinais” porque era demasiado nova para o ver. De resto, nada me incomoda e tudo me agrada (do muito bom ao muito mau).

Fui ver “It” ao cinema e acho que, neste filme, isso faz toda a diferença. O som é uma parte muito importante do filme e só impressiona no volume de um cinema. Não conhecia nada da história. De Stephen King só li “Carrie” e reconheci alguns traços. Uma história que parece banal com um grupo de miúdos a entrar nas férias de Verão. Depois começa a haver desaparecimentos de crianças e acontecimentos estranhos e a história vai-se precipitando a partir daí. E claro, à boa moda de Stephen King, vai-se tornando cada vez mais irreal. Rendi-me, confesso. Se pudesse estava no cinema amanhã para o ver outra vez, a sério.

 

O castelo de vidro

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Há umas semanas vi uma entrevista com a autora do livro que inspirou este filme em que ela explicava que esteve muito envolvida na produção do filme, ajudando com o guião e conversando com os atores e isso nota-se em cada cena. O filme é muito fiel ao livro, com exceção de alguns pormenores no fim. As melhores cenas do livro estão no filme, quase palavra por palavra. As cenas que são diferentes estão melhores ainda no filme, mais completas e com mais sentido.

Há uma frase do filme (que não me lembro de ler no livro) que é simplesmente perfeita: don’t add to the noise (não contribuas para o barulho). Vou levar para a vida. Era tudo tão mais fácil se não perdêssemos tempo a adicionar ao barulho. Vale para tanta coisa (julgar, criticar só porque sim, opinar sem saber porquê).

Enfim, estou a dispersar. Gostei muito do filme. Não senti o mesmo impacto que senti com o livro porque a primeira impressão com esta história real é surpreendente mas, como já li o livro, esse impacto não existiu. Para mim, o filme foi bonito e doloroso, mas tão poderoso como o livro. Recomendo verem depois da leitura do livro.

(Primeira imagem: unsplash)