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Livros, viagens e tudo o que nos acrescenta

The big sick: A história real que vale a pena ver

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Esta história tem tanto de improvável como de cómica. Apesar de ser dramática. E um bocadinho existencial. Eu explico. Kumail, um comediante paquistanês a viver nos Estados Unidos apaixona-se por Emily, uma estudante de psicologia. Há um pormenor. Kumail é muçulmano e a mãe está determinada a vê-lo casar com uma rapariga da mesma religião. Emily fica doente e entra em coma. Durante esse período, Kumail conhece pela primeira vez os pais de Emily e é a relação que estabelece com eles que torna esta história extraordinária.

Não, esperem, o que a torna extraordinária é a história ser real. Emily e Kumail escreveram juntos o guião deste filme sobre a sua história de amor e Kumail, hoje um comediante genial, entra no filme fazendo… dele próprio.

“The big sick” (da Amazon) é um daqueles (raros) filmes originais, com diálogos inteligentes e personagens complexas. Fez-me rir (muito) e chorar (pouco) e é um dos melhores filmes que vi em largos meses. Se gostaram de What if (ou The f word) vão certamente gostar deste filme, que segue o mesmo género de comédia romântica alternativa.

Além disso, este filme é importante também porque tem um protagonista muçulmano a representar uma pessoa absolutamente normal numa produção norte-americana. Como Aziz Ansari (da série Master of none) disse numa entrevista:

If every time you see a Muslim person, it’s the f*cking guy from 24 or Homeland, yeah, it’s going to shape your opinion of all these people. If every time you saw a Muslim person on TV, and it’s my dad, you’ll be like, ‘These goofy people! They’re probably gonna ask me for a bite of my sandwich.’

Se ainda não ficaram convencidos, vejam o trailer.

O castelo de vidro de Jeannette Walls

Fiquei curiosa com este livro quando vi o trailer do filme, a estrear em Portugal depois do Verão. Mais ainda quando, no início do trailer, começa a tocar “Sleep on the floor” dos The Lumineers. Uma das minhas músicas preferidas. Como se não bastasse, ainda conta com Brie Larson e Naomi Watts e o realizador é Destin Daniel Cretton, que também fez Short term 12.

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Castelo de vidro conta a história da família de Jeannette Walls desde a sua infância até à vida adulta. Os pais são nómadas e viajam de cidade em cidade com os quatros filhos. O pai é alcoólico, a mãe é artista e ambos renegam a responsabilidade de educar os filhos que ficam quase sempre entregues a si próprios.

Perguntei-me se o fogo viera para me tentar apanhar. Perguntei-me se todo o fogo estaria relacionado, da mesma maneira que o pai dizia que todos os humanos estavam relacionados (...) Não tinha resposta para estas perguntas, o que sabia era que vivia num mundo que, a qualquer momento, podia desatar a arder.

Jeannette é jornalista e isso nota-se na sua escrita, limita-se a contar aquilo que aconteceu de forma crua. Há alguns apontamentos sobre como se sentiu ou o que pensou na altura, mas são raros. No fim de contas, este livro é uma mão cheia de histórias de uma família disfuncional.

Qual é o papel que a nossa infância tem no resto da nossa vida? Até que ponto somos influenciados pelas atitudes dos nossos pais? Estariam aqueles miúdos melhor se tivessem sido entregues aos serviços sociais? Deixar as conclusões para o leitor é o triunfo deste livro. Nada nos é imposto. As histórias são estas e somos livres de sentir e de pensar o que quisermos. Somos livres de gostar dos pais destes miúdos ou de os detestar, de nos indignar-mos com a sua irresponsabilidade, de rirmos e de chorarmos.

Este livro é, para mim, sobre a forma como achamos que conhecemos as pessoas que nos são próximas, mas com o tempo vamos percebendo que não é assim tão simples. As personagens são reais, humanas e complexas. Tanto se desfazem como se compõem, numa teia de eventos que não tem de fazer sentido. Afinal, esta é uma história real, da primeira à última página.

À medida que a história avança, a vontade é acelerar a leitura para saber como termina. O final é como tudo o resto neste livro - cru. Levanta muitas perguntas e não tem respostas para nós. Talvez elas não existam. Talvez a busca incessante pela ordem só nos faça ficarmos mais perdidos no caos. Enfim, leiam o livro e decidam por vocês. O filme (só) chega depois do Verão mas, se fizer justiça ao trailer (e ao livro) será um dos melhores filmes deste ano.

O mosteiro budista da Ericeira

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Há uma estrada entre Mafra e a Ericeira que esconde um segredo. Passei tantas vezes por ali sem fazer ideia de que há um mosteiro budista no pinhal dos Frades. É daqui que, todos os dias, pelo menos um dos monges caminha até à vila da Ericeira para receber uma refeição na sua malga (tigela).

Desde que descobri o mosteiro que tinha curiosidade em fazer uma visita. E foi assim que um dia, numa visita de grupo, entrei pela primeira vez numa sala de meditação para conhecer o monge Appamado, um dos seis monges que ali vivem. Não sei o que se esperaria de um monge, mas Appamado respondeu a todas as perguntas com a maior simpatia e tinha um ar de genuína felicidade, algo demasiado raro.

Contou-nos um pouco da sua história e do que o levou ao budismo. Explicou que quando estava a tirar a carta de condução ia até à escola e depois apercebia-se de que não se lembrava do caminho que tinha feito para lá chegar (quem nunca?). Então, voltava atrás e fazia o percurso novamente tentando prestar atenção ao que o rodeava, ao caminho que fazia, ao momento em que estava. O resto é história, como se costuma dizer. Mas Appamado acabou por ir para um mosteiro em Inglaterra e por fazer o percurso até ser ordenado monge.

O mosteiro da Ericeira segue a tradição tailandesa da floresta de Ajahn Chah. O budismo é, mais do que uma religião, um estilo de vida que é praticado todos os dias pelos monges que ali vivem. Têm poucos pertences, que se resumem à malga onde comem e ao traje cor-de-laranja vivo. Não tocam em dinheiro, sendo que o mosteiro vive de doações e a parte financeira não é gerida pelos monges. Não comem depois do meio-dia e dedicam os dias (os anos se assim quiserem) à meditação e à prática monástica. Digo se assim quiserem porque são livres de deixar o mosteiro e a vida de monges, se o entenderem.

Esta visita decorreu há algumas semanas. Já passei pelo pinhal dos Frades vezes sem conta desde então e, de cada vez, tomo nota para prestar mais atenção ao caminho que estou a fazer. Mais vezes do que gostaria de admitir, minutos depois já estou imersa noutros pensamentos. Mas tentar já é um começo.

 

Como visitar

A Green trekker e a Caminhando fazem visitas de grupo ao mosteiro. Além disso, também é possível participar nas meditações (todos os dias às cinco da manhã e às sete e meia da tarde).