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Livros, viagens e tudo o que nos acrescenta

Into the wild de Jon Krakauer

«Se o dia e a noite são de tal forma que se saúdam com alegria, e a vida irradia uma fragrância que lembra flores e ervas aromáticas, é mais elástica, mais estrelada, mais imortal - é esse o teu sucesso.»

Henry Thoreau

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Em Abril de 1992, Chris McCandless, de 22 anos, abandona um futuro promissor e aventura-se pela natureza selvagem do Alasca, onde acaba por morrer.

Sabemos a história desde a primeira página do livro. Real. Estranha. Selvagem. Na verdade, desconhecemos tudo. McCandless era muito mais do que um jovem com ideias românticas e ligeiramente irresponsáveis.

A aventura no Alasca era apenas a ponta de uma filosofia de vida irreverente. O que é interessante no livro é que a personalidade de McCandless vai sendo descoberta ao longo do livro, através do seu diário, dos livros que lia, das pessoas que o conheceram... Eu diria que o livro é uma tentativa de perceber de que modo a vida de McCandless o conduziu ao desejo de ir sozinho para o Alasca, vivendo apenas do que a terra fornecia.

 

Algumas frases favoritas de Into the wild:

Sobre pensar demais

Acho que se meteu em sarilhos porque pensava de mais. Por vezes esforçava-se demasiado por entender o mundo, por compreender a razão que levava as pessoas a serem tão más umas para as outras com tanta frequência.

Sobre procurar alguma coisa

Parecia que estava à procura de alguma coisa, a procurar alguma coisa, só que não sabia o que era.

Tudo aqui na Terra

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Na África do Sul, conheci um rapaz que estava perto, muito perto de concretizar o sonho de ir para Marte. Contou, entre conversas à volta de uma fogueira, que estava na fase final do Mars One.

Mars One é um projecto que pretende enviar, em 2026, um grupo de pessoas a Marte para criar e estabelecer a primeira colónia de seres humanos no planeta (sim, isso mesmo). Os cem selecionados vão passar por dez anos de preparação. Destes, 24 vão ser escolhidos para a viagem. Sem regresso ao planeta Terra.

Apesar de admirar o facto de ele fazer aquilo que quer e seguir os seus sonhos, é-me muito difícil imaginar como é que alguém pode decidir abandonar tudo. Por tudo leia-se a família, os amigos, o seu país e, aquilo que me faz mais confusão, o planeta azul.

Os vídeos do Mars One mostram este projecto como a maior aventura espacial, a seguir à ida do Homem à lua. É recorrente, nos vídeos dos candidatos, afirmarem que querem fazer parte dela, deixar uma marca para as gerações futuras, fazer as pessoas voltarem a ficar entusiasmadas com o espaço. A mim, parece-me tudo muito assustador e… surreal. Assusta-me a ideia de que a colonização de outro planeta é vista como a salvação última da espécie humana. Assusta-me pensar que estamos mesmo a chegar a isto.

E deixem-me que vos diga que, pelas imagens, Marte deixa muito a desejar como sítio para viver. É um planeta desértico e hostil.

Apesar disso, confesso que a ideia de, daqui a uns bons anos, assistir à chegada de pessoas a Marte me deixa um bocadinho entusiasmada. Mas dispenso, de boa vontade, viver ou mesmo visitar, outro planeta. Tenho tudo o que preciso aqui, na Terra. Por tudo leia-se a família, os amigos, o mar, cadernos e canetas para escrever e uma boa quantidade de países e culturas para visitar. Passo bem sem Marte.

A melhor coisa que li

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Já tinha escrito aqui sobre o livro "Wild" de Cheryl Strayed. De fora, ficou esta frase, a minha preferida de todo o livro.

Cheryl caminhou sozinha pela natureza selvagem dos Estados Unidos durante três meses. Tinha a vida transformada num caos e procurava respostas. Esta é uma das últimas frases do livro.

Acho que Cheryl percebeu que, provavelmente, nunca encontraria as respostas que procurava. Mas talvez não seja preciso. Talvez seja suficiente acreditar que as coisas se encaixam, mais cedo ou mais tarde, no sítio onde pertecem. Talvez seja suficiente ver o peixe logo abaixo da superfície da água.

Guia de Voluntariado Internacional

Há dois anos estive um mês a fazer voluntariado num centro de reabilitação de tartarugas marinhas na Grécia. Foi, sem sombra de dúvida e até hoje, o melhor mês da minha vida. Pela experiência, pelo país, pelas pessoas que conheci. Quem já participou num projecto assim sabe que o voluntariado internacional é uma experiência extraordinária. Que nos dá muito mais do que aquilo que nós possamos dar com o nosso tempo e o nosso trabalho. Entretanto, já estive na Holanda a fazer voluntariado com focas e já voltei à Grécia para um Youth Exchange.

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 Centro de reabilitação de tartarugas marinhas, Grécia 

 

Fazer uma viagem é ir. Fazer voluntariado fora é ir e ficar. É fazer parte do dia-a-dia de uma comunidade local, viver a cultura e o ambiente. O objectivo é fazer o bem, deixar aquele projecto, aquela comunidade, melhor do que quando ali chegámos.

 

O que vejo e não esqueço

Tinha voltado há dias da África do Sul, quando vi este livro à venda. Lembrei-me da vila pobre, muito pobre, que visitei, das casas tão pequenas para tanta gente. Lembrei-me da lenda do “tocolacho” que ouvi, repetida de boca em boca. Reza a história que “tocolacho” é um monstro de forma humana e muito pequeno que entra nas casas das pessoas durante a noite e mata as crianças pequenas da família. A história tem uma explicação simples e cruel. Como as casas não têm aquecimento e o Inverno é muito frio, as pessoas acendem fogueiras que ficam acesas pela noite dentro. O oxigénio sobe, o dióxido de carbono desce e como, normalmente, as crianças dormem no chão, são as que morrem mais rapidamente.

Muita gente acredita nesta história mas ninguém se atreve a dizer que já viu o “tocolacho”. Não me esqueci disto porque nem consigo imaginar a dor destas mães a irem dormir todas as noites com medo que os filhos não estejam vivos no dia seguinte…

Mas voltando ao livro. Trouxe-o logo para casa. “O que vejo e não esqueço” conta as viagens de Catarina Furtado enquanto Embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, a países como a Índia, Timor, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Haiti, entre outros.

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 «O que vejo e não esqueço» de Catarina Furtado. Participação especial: Pucky.

Confesso que achei que algumas partes do livro têm demasiada informação e acabam por se tornar ligeiramente confusas. Por outro lado, gostei muito das partes que se centram na história de determinadas personagens destas viagens. Personagens não, pessoas reais. Que vivem nestes sítios. Que vivem estas vidas. Que têm uma história para contar, que merece ser ouvida. E para ouvir estas histórias, vale absolutamente a pena ler o livro.

 

Deixo as duas passagens de que mais gostei: