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Ler, escrever e viver

Ler, escrever e viver

O desconforto que é escrever

Eu escrevo muito, sempre escrevi, pelo que o blog surgiu como uma extensão natural da minha escrita. Um bocadinho estranha, talvez, e desconfortável até. Escrever implica alguma vulnerabilidade, mesmo que não escrevamos sobre nós (a escrita é sempre sobre nós), mas sendo um blog um espaço público, a vulnerabilidade é maior.

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Vi esta quote da Ann Patchett no Brain Pickings e tive aquela sensação (dos filmes, dos livros e também das quotes) de que alguém me leu o pensamento e escreveu para mim:

Forgiveness. The ability to forgive oneself. Stop here for a few breaths and think about this because it is the key to making art, and very possibly the key to finding any semblance of happiness in life.

[…]

I believe, more than anything, that this grief of constantly having to face down our own inadequacies is what keeps people from being writers. Forgiveness, therefore, is key. I can’t write the book I want to write, but I can and will write the book I am capable of writing. Again and again throughout the course of my life I will forgive myself.

É isto mesmo. Não consigo escrever o blog que quero, mas vou escrevendo o blog que sou capaz de escrever até, quem sabe, este work in progress me levar ao blog que quero escrever (ou não).

Casa de Anne Frank

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Faz hoje 70 anos que Anne Frank morreu e eu ia escrever um texto sobre a minha visita à casa onde Anne e a família se esconderam, em Amesterdão. Foi há quase um ano. Segundo descobri, lembro-me de muito pouco.

Havia demasiadas pessoas a ocupar o pouco espaço disponível, uma estante com livros a servir de passagem secreta para o anexo, umas escadas de madeira íngremes, divisões pequenas, desprovidas de mobília e muito escuras. Não absorvi nada. Não podia ser, pensei. Não sei o que foi a guerra. Não sei o que foi o Holocausto. Já ouvi falar sobre isso, já li sobre isso, e não consigo sequer imaginar.

Apetecia-me voltar para trás e regressar noutro dia, noutro ano. Mas segui em frente e fiz o mesmo que toda a gente, vi tudo com atenção, li os papéis e as legendas das entrevistas que passavam nos televisores.

Um clarão de luz vindo do sótão fez-me respirar de alívio. O único sítio da casa onde se podia ver se era dia ou noite, ver o sol, a lua, as estrelas, a única ligação directa ao mundo lá fora era feita por uma janela no teto do sótão.

Cheguei à última sala e, num ecrã gigante, a frase "All her would-haves are our opportunities" prendeu-me os olhos e começou a ecoar na minha cabeça (ainda por estes dias me lembro, tantas vezes, desta frase de Emma Thompson):

"All her would-haves are our opportunities"

"All her would-haves are our opportunities"

"All her would-haves are our opportunities", uma e outra vez.