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Livros, viagens e tudo o que nos acrescenta

Guia de Voluntariado Internacional

Há dois anos estive um mês a fazer voluntariado num centro de reabilitação de tartarugas marinhas na Grécia. Foi, sem sombra de dúvida e até hoje, o melhor mês da minha vida. Pela experiência, pelo país, pelas pessoas que conheci. Quem já participou num projecto assim sabe que o voluntariado internacional é uma experiência extraordinária. Que nos dá muito mais do que aquilo que nós possamos dar com o nosso tempo e o nosso trabalho. Entretanto, já estive na Holanda a fazer voluntariado com focas e já voltei à Grécia para um Youth Exchange.

Centro de tartarugas marinhas.png

 Centro de reabilitação de tartarugas marinhas, Grécia 

 

Fazer uma viagem é ir. Fazer voluntariado fora é ir e ficar. É fazer parte do dia-a-dia de uma comunidade local, viver a cultura e o ambiente. O objectivo é fazer o bem, deixar aquele projecto, aquela comunidade, melhor do que quando ali chegámos.

 

Dentro da União Europeia

  • Youth Exchange

São intercâmbios de curta duração (até 21 dias), que juntam jovens de países da UE para discutir e aprender sobre os mais diversos temas. Todas as despesas são financiadas, incluindo as viagens, que são pagas pelos participantes e depois, reembolsadas até um determinado valor.

Algumas organizações portuguesas que organizam estes intercâmbios são:

Rota Jovem (temas relacionados com cultura, dinâmica de grupo, criatividade...)

Brigada do Mar (temas relacionados com o ambiente e vida saudável)

Grupo de Jovens Novo Mundo (temas variados)

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 Snorkel em Tassos, Grécia, num intercâmbio com a Brigada do Mar relacionado com a poluição do meio marinho

 

  • EVS (Serviço de Voluntariado Europeu)

O EVS permite a jovens entre os 17 e os 30 anos fazer voluntariado em países da União Europeia (há alguns projectos fora da UE mas são poucos), com a duração de 2 a 12 meses (há alguns projetos mais curtos mas são raros).

Enquanto o projecto local beneficia do apoio de um voluntário a tempo inteiro, o voluntário adquire novas competências (interpessoais, capacidade de adaptação, aprendizagem de uma nova cultura e de uma nova língua, entre outros).

As viagens, alojamento e seguro são financiados pelo Erasmus mais e é ainda dado dinheiro de bolso para alimentação e restantes despesas.

Existem projectos nas mais diversas áreas: ambiente, cultura, saúde, juventude, entre muitos outros. Os projetos disponíveis podem ser vistos aqui.

É necessário haver uma organização de envio, neste caso portuguesa que vos envia para um projeto fora do país, e uma organização de acolhimento que vos recebe no país para onde vão.

Algumas organizações de envio portuguesas: Rota Jovem, ProAtlântico, Associação mais cidadania, Spin, Yupi.

 

Fora da União Europeia

Existem milhares de projetos de voluntariado por esse mundo fora. Infelizmente, nem todos são éticos, muitos existem apenas como negócio ganhando dinheiro à custa dos voluntários, outros tendo boas intenções acabam por não resultar. Fazer voluntariado com crianças órfãs, por exemplo, ou com animais selvagens mexe com questões delicadas e nem sempre as boas intenções são suficientes para um projeto numa comunidade local ter um impacto positivo e duradouro. É, por isso, muito importante conhecer bem o projeto onde se pretende fazer voluntariado.

Alguns pontos que podem ajudar a escolher uma boa organização de voluntariado:

  • A organização deve pôr a comunidade em primeiro lugar, oferendo soluções para problemas locais.
  • Deve haver um critério de selecção dos voluntários. Procura uma organização que te permita conciliar as tuas qualificações com aquilo que a organização procura num voluntário. Uma organização que não se preocupa em encontrar as pessoas certas para determinada função não é uma boa organização. Isto é particularmente importante quando se trata de lidar com populações em risco, como crianças. Se não tens qualificações para exercer uma determinada função no teu país porquê que outras comunidades te devem aceitar nessa função? Nunca aceitaríamos, em Portugal, um professor sem experiência nem qualificações e que não falasse português. Mas é verdade que proliferam organizações que aceitam, sem quaisquer critérios, voluntários para dar aulas a crianças órfãs no Sudeste Asiático, por exemplo.
  • Procura saber se tens de pagar e quanto e porquê. Para onde vai o dinheiro que dás à organização? Normalmente, quanto mais dinheiro as organizações pedem, menos provável é que sejam de confiança.
  • Fala com pessoas. Mantém contacto com a organização e pergunta tudo o que quiseres. Tenta falar com antigos voluntários para saber que funções desempenhavam, se gostaram, se recomendam a organização...
  • É importante que a organização seja transparente e coerente em relação aos objectivos do projecto, ao destino do dinheiro que recebe dos voluntários/doações e até em relação às dificuldades que os voluntários podem sentir. Deves avaliar isto no site ou na resposta que recebes ao pedires mais informações sobre o projecto.

Por último, quando voltares deixa um registo na internet sobre a organização onde estiveste. Diz bem ou mal mas diz qualquer coisa (e porquê). Alguém vai agradecer a informação.

 

Para onde?

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Um bom site para procurar projetos é o Para Onde. Através do site têm acesso a projectos de curta duração (campos de voluntariado de 1 a 3 semanas dentro e fora da Europa) e de longa duração (de 1 mês a 1 ano também dentro e fora da Europa). O Para Onde é parceiro português de uma rede de voluntariado internacional, a SCI (Service International Volunteer) apoiada pela UNESCO. As candidaturas são feitas através do site.

Para mais informações, é explorarem os programas e lerem os testemunhos.

 

Mais recursos

  • Para quem tem interesse em voluntariado com causas humanas, o livro da Catarina Furtado “O que vejo e não esqueço” é um bom ponto de partida para perceber os problemas que existem, principalmente em países de língua portuguesa.
  • O documentário do Ângelo Rodrigues “A terra dos mil sorrisos” sobre a sua experiência como voluntário da ONG Helpo durante um mês na ilha de Moçambique enquanto professor de teatro de crianças dos 5 aos 12 anos. Desafio-vos a ver este filme sem ficarem com vontade de ir para Moçambique. A sério, vale muito a pena.
  • Uma nota importante sobre o voluntariado com crianças órfãs promovido por várias organizações em países pobres (do Sudeste Asiático, por exemplo): J. K. Rowling tem uma associação (a Lumos) que lida com crianças órfãs e tem feito algumas críticas a projetos de voluntariado com crianças abandonadas. Em resumo, diz que: Volunteering in an orphanage is not a good thing to do. Se é algo que estejam a pensar fazer, vejam este vídeo e tirem as vossas próprias conclusões. Acima de tudo, o princípio de qualquer voluntariado tem de ser o de deixar uma comunidade um bocadinho melhor do que quando lá chegámos. E é possível que o voluntariado com órfãos faça exatamente o contrário. Como diz a autora de Harry Potter:

Volunteering is an amazing thing, but volunteer in the right way.

- J. K. Rowling

Editado e actualizado a 18 Julho 2017

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