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Livros, viagens e tudo o que nos acrescenta

É preciso um bocado de paixão + leiam este livro

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Fui para o Brasil muito desanimada com tudo. Com a faculdade, com o que fazer depois da faculdade, com o paradigma de “eu quero fazer aquilo de que gosto mas também quero alguma segurança e independência”. Eu sei, é o dilema típico de quem está em final de licenciatura ou mestrado e fica meio perdido com o que vem a seguir.

Às vezes, acontece termos a sorte de ler um livro que põe em palavras o que estamos a sentir, melhor do que seríamos capazes de o fazer. Foi isso que me aconteceu com o livro «Comer, orar e amar» de Elizabeth Gilbert. Para quem não conhece, a autora passou por um divórcio complicado e decidiu viajar por Itália, Índia e Bali durante um ano.

O resumo que fiz acima não faz jus ao livro. Faz parecer um simples relato de viagem e problemas da vida amorosa, quando é bem mais denso e profundo do que isso (e ainda bem). Nos primeiros capítulos, percebemos o sofrimento de Liz e a forma como se sente perdida:

Quando nos perdemos em bosques sombrios como estes, por vezes levamos algum tempo a perceber que nos perdemos. Ficamos convencidos de que nos desviámos apenas alguns passos da nossa rota, que a qualquer momento voltaremos a encontrar o caminho certo. Depois, a noite cai dia após dia e continuamos sem fazer ideia do sítio onde estamos. É nessa altura que admitimos ter-nos desviado tanto do caminho que já nem sabemos onde nasce o sol.

Liz come (muito) em Itália, aprende meditação na Índia e termina o ano em Bali. Pelo caminho, há uma viagem mais interior do que exterior. Liz passa pelo sofrimento para chegar a um estado de felicidade e tranquilidade, pela desinspiração para chegar à inspiração. Talvez esse seja o único caminho.

O Bhagavad Gita – esse antigo texto indiano – diz que é melhor viver o nosso próprio destino de forma imperfeita do que uma imitação da vida de outra pessoa na perfeição.

Fui lendo o livro aos poucos pelo Brasil. Foram dois meses de muito trabalho para o estágio e de ficar isolada do mundo. Fez-me muito, muito bem. Certo dia, soltámos onze tartarugas marinhas que estiveram em reabilitação e foi um dos momentos mais genuinamente felizes da minha vida. Daquela felicidade desapegada de que nada pesa e a vida não custa nada.

Durante aqueles dois meses, conheci muita gente que gosta muito daquilo que faz, seja reabilitação de animais, seja proteção ambiental e entendi melhor o valor disso. São pessoas que se dedicaram desde o início, que correram atrás das coisas, que se empurraram tanto para a área que queriam que acabaram por ir ficando. Mas também são pessoas que fazem muito mais do que o obrigatório porque quando fazemos aquilo de que gostamos, queremos sempre aprender mais, ir mais longe e fazer melhor.

Vim de lá inspirada, sabendo que não sendo sempre fácil fazermos o que gostamos, é possível e é algo porque vale a pena lutar. Temos de viver aquilo em que acreditamos. Para o nosso bem, para a nossa felicidade e porque o mundo seria um bocadinho melhor se todos tivéssemos um bocado mais de paixão por aquilo que fazemos todos os dias.

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